Real Forte Príncipe da Beira: Ocupação do Vale do Guaporé Rondoniense.

A presença de Militares no território que formaria o Estado de Rondônia, remota ao Período Colonial com a construção do Real Forte Príncipe da Beira na Capitania de Mato Grosso, na Região do Vale do Guaporé (atual município de Costa Marques) a partir de 1776.

O militarismo foi a melhor opção para engrossar o contingente de trabalhadores, operários e escravos, e sua composição obedeceu um critério dentro de uma hierarquia militar que segue até os dias atuais e constituiu a chamada “nobreza da terra” e formou a elite colonial do Guaporé rondoniense (BARROSO, 2015). Somente o sistema militar foi capaz de manter o ritmo dos trabalhos nos canteiros de obras e a disciplina e ordem naquela nova sociedade que se formava na periferia do Brasil Colônia, composta por brancos militares, índios e negros escravos. Segundo Barroso:

Os militares que vieram sentar praça no Real Forte e ajudar na construção, todos receberam um aditivo em seus salários, esse abono variava conforme o cargo e patente de cada militar, uma espécie de gratificação, os portugueses chamavam esse aditivo de “graças”, sendo todos os militares da Companhia de Linha de Fronteira. Esses militares faziam parte das tropas pagas, também chamadas de Regulares ou de Primeira Linha que recebiam soldo, fardamento, alimentação para si, como farinha e azeite (BARROSO, 2015, p. 81).

Em carta encaminhada pelo Comandante do Forte Príncipe, José de Melo Lastro Vilhena e Silva, em 29 de abril de 1776 a Domingo Sambucete, relatou o quantitativo dos primeiros trabalhadores e Oficiais do Forte Príncipe com seus respectivos cargos e obrigações: Capitão de Engenharia – encarregado pelos feitores em suas obrigações; Furriel Tenente de Dragões – Encarregado pela distribuição dos trabalhos, locar pessoas e vigiar as tarefas, conforme a portaria que lhe for dada; Sargento de Artilharia – encarregado pela medição da obra, vigiar trabalhadores, fazer contagem no final do expediente, prestava serviço de escrivão para os militares do Forte e não poderia deixar faltar comida no regimento real; e o Feitor de Obra (Crioulo) – encarregado pelos negros do Rei (BARROSO, 2015).

Os primeiros militares que chegaram na construção do Forte Príncipe, tornaram-se com o tempo Senhores de escravos, os quais lhe servirão de escravos de “ganho”, sendo, considerados como militares/patrão, empregavam seus escravos em qualquer tipo de trabalho na construção do Forte.

O Real Forte Príncipe da Beira teve sua obra concluída em 1783, localizado em posição estratégica na fronteira oeste na Capitania de Mato Grosso teve importante papel na segurança do território brasileiro, garantido a Coroa portuguesa o livre acesso de suas navegações pelo Rio Guaporé, evitou o contrabando realizado pelos espanhóis, assegurou e preservou riquezas minerais e vegetais como ouro e drogas do sertão.

O abandono do Real Forte Príncipe da Beira passou ser sentido por volta de 1815 com o esgotamento das minas de ouro do Mato Grosso, com o surgimento da República em 1889, os últimos militares que resguardavam a fortaleza foram retirados. Segundo Barroso (2015), num período aproximado de 50 anos, o Forte ficou totalmente esquecido na região de fronteira, até ser reconhecido pelo Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon em 1911 em uma de suas missões pela Amazônia rondoniense.

O Forte foi ocupado pelo Exército brasileiro em 1930 que o conserva até os dias atuais, tentando conscientizar a população rondoniense sobre a importância histórica como símbolo de poder da Coroa portuguesa no Brasil. Em agosto de 1950 foi tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, sob o número de registro n° 395.

Referência:

BARROSO, Lourismar da Silva. Real Forte Príncipe da Beira: Ocupação oeste da Capitania de Mato Grosso e seu processo construtivo (1775-1783). Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2015.